A jornada do sacerdócio

set. 21, 2024 0 comments


O caminho sacerdotal está cheio de experiências únicas, trabalho árduo e constante transformação. Este foi um caminho que escolhi há dois anos. Com o treino e iniciação, crio o Iseum dos Limites da Lua como Sacerdos Mora Sininho Rosa, que podem explorar nesta página. Considerei que seria perfeito para primeira mensagem deste espaço espiritual falar sobre o sacerdócio e o meu caminho específico. Este texto não será uma verdade absoluta acerca do sacerdócio e do caminho sacerdotal - nem sequer do caminho pagão. Apenas uma verdade, no meio de muitas, que existe no contexto deste Iseum e da constante transformação a que me sujeito. 

Ser sacerdote, sacerdotisa ou sacerdos é uma promessa de serviço ao Divino e à comunidade à nossa volta. Não é ser um devoto do Divino que tem fé no mesmo, nem fazer pequenos trabalhos com o divino. É prometer parte de si, do seu tempo, da sua prática não só a este Divino, como a todos à nossa volta que necessitem de orientação na sua prática. Colocado desta forma, muito torcem o nariz, sentido ser uma obrigação religiosa - mas preciso que pensem que é um trabalho e vocação como qualquer outro, como um médico tem a responsabilidade de curar, um professor de ensinar. Esta vocação, como todas as outras, acontece dentro dos limites e energia definida pelo próprio que aceita esse trabalho. É também por isso que cada um terá a forma de prestar esse serviço, e cada um terá a sua forma de orientar e ajudar. Não existe um sacerdos igual a outro, pois tal como cada um de nós tem a sua ideia individual do Divino e do Espiritual construida das nossas experiências, sacerdos também a têm. Ajudamos as pessoas no seu caminho, mesmo que ele não seja exatamente igual ao nosso (até porque isso seria impossível). 

O início do caminho sacerdotal também será diferente para cada um. No entanto, quis deixar aqui a minha experiência, para assim refletirem sobre ela e este caminho que ainda é tão misterioso. 

Começar o caminho

Há mais de dois anos decidi começar esta jornada. Sempre me senti direcionada para ajudar os outros através da espiritualidade, algo que foi amplificado pela minha presença nas redes sociais. Com cada vez mais pessoas a procurar-me para orientar o seus caminhos - mesmo antes de ter funções sacerdotais, não sendo na altura a melhor pessoa para responder a essas perguntas - e mais pessoas que tinham essas funções sacerdotais a entrar na minha vida. Quando ouvia sacerdotisas a falar da sua prática, funções e vocação, sentia um puxão para saber mais, o instinto de mergulhar nesse mundo e caminho. Com esse instinto veio medo e dúvida, a sensação de não estar pronta para isso, de não saber o que esperar - mas quanto mais via sobre esse caminho, mais era assoberbada pela grande vontade de o caminhar. Isso, e ter puxado a carta da Sacerdotisa em leituras de Tarot repetidamente até parar de ignorar esse instinto, fez com que buscasse forma de começar o meu treino.

Como nenhum sacerdote é igual, nenhuma forma de iniciação o é. Considerei a auto-iniciação, mas senti que precisava de uma orientação mais forte do que experiências isoladas, precisava de alguém que me ensinasse. Considerei o caminho do Druidismo, mas não senti a mesma conexão com ele que senti com a ideia do caminho sacerdotal. Acabei por aceitar a escolha que estava mesmo à minha frente: o Iseum do Caminho da Terra. A sua sacerdotisa, Alexia Moon, foi a primeira neste caminho a aparecer na minha vida. Antes de ser minha iniciadora, é minha amiga próxima, e conhecemo-nos nas comunidades pagãs online. Foi aí que decidi contactá-la com a ideia de começar o treino sacerdotal, que ela aceitou com um período de espera para termos ambas a certeza que este era o caminho ideal. 

Comecei o treino oficialmente a 1 de novembro de 2022, um dia espiritualmente simbólico. A partir desse dia estive secretamente a fazer o treino até chegar ao dia da iniciação.

O caminho que escolhi

Fui iniciada em Nabia e Ataegina, e comecei o meu treino já com essas Deusas em mente. Comecei o treino com muito em mente do que queria fazer e como queria seguir a minha prática, e sem ser as Deusas, quase nenhumas dessas ideias continuam iguais. O treino sacerdotal traz um crescimento e aprendizagem muito particular, que, apesar de não ser para todos, era exatamente aquele que eu precisava. Até as Deusas que sirvo tiveram as suas mutações, explorando outras Divindades e pontos de vista. Claro, os seres mágicos também tinham de ser incluídos, e também tive bastante reflexão sobre a natureza dos mesmos. 

Quando comecei, ainda estava agarrada à ideia da crença como algo fixo, como uma verdade imutável que pode ser descoberta. Isto relacionou-se ao próprio facto de ainda impor uma natureza fixa à minha própria pessoa, negociar a minha natureza como algo imutável. Graças à minha iniciadora, que verdadeiramente tornou o treino num espaço seguro, consegui explorar não só a minha própria fluidez, como a fluidez da fé em si. Nada é fixo, tudo em constante construção e desconstrução. Aprendi rapidamente que, ao contrário do que muitos pensam, o sacerdócio não é uma posição de altivez, mas de humildade. Um sacerdote não é quem te diz o que é correto ou errado, é quem te dá o seu tempo e experiência para te ajudar a encontrar o teu próprio caminho e te apoiar em todas as suas transformações.

O caminho que explorei e levei para o meu ritual iniciático - para o qual me desloquei a Braga, um local espiritualmente significativo pela sua conexão com Nabia - foi um baseado nas lições de transformação e resistência de Ataegina, lições de fluidez e empatia de Nabia, lições de liberdade e alegria dos seres mágicos. Tanto eu como este Iseum temos como base o tarot, arte e meditação para a descoberta de segredos e contacto com o Divino e o Liminal. 

As minhas funções e o futuro

Agora com o meu treino terminado, tenho pilares do meu Iseum sob os quais ajo. Tenho funções, que foram definidas durante o meu treino - mas que mesmo assim, como a fé, serão sempre abertas a transformação. Sacerdotes, Sacerdotisas e Sacerdos da minha linhagem especifica, dentro da Fellowship of Isis que abriga o I.C.T. e o I.L.L., têm funções gerais e funções específicas. Nas funções gerais temos aquilo que esperamos normalmente de alguém com um sacerdócio religioso - guiar e ensinar sobre a fé, ajudar a comunidade, uniões e funerais. Já as funções específicas, são mais relacionadas com a relação que cada um tem com a fé e a sua prática. No meu caso, prometi ser criativa das Deusas, e continuar a criar imagens e histórias que revelem este panteão ainda tão misterioso ao paganismo. Arte é o que fomenta a fé, a paixão, a curiosidade - sem ela, o Divino continua escondido, precisam dessa tradução a algo que a nossa mente compreenda. Prometi ainda fazer mediação liminal com seres mágicos e espíritos, quer para ajudar os próprios, como para ajudar quem tenha de lidar com eles na sua vida. Finalmente, a identidade e luta queer estão enleadas com a minha fé, continuando a luta no espectro espiritual para promover um paganismo mais inclusivo. 

O futuro deste Iseum está nessas funções, e verão diversas reflexões, histórias, imagens e experiências a encher este espaço com recursos que decerto serão úteis para quem está a explorar a sua fé. Aqui, têm um espaço seguro e aberto a quem precisar dessa segurança, e sempre o hão de ter. Foi a este espaço que a minha jornada me trouxe - e fico feliz que a tua te tenha trazido também. 

Bençãos Brilhantes!




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